sexta-feira, 19 de novembro de 2010

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Crédito da imagem: Michel Mayerle


A GLEBA ME TRANSFIGURA

Sinto que sou abelha no seu artesanato.
Meus versos tem cheiro de mato, dos bois e dos currais.
Eu vivo no terreiro dos sítios e das fazendas primitivas.
(...)
Minha identificação profunda e amorosa
com a terra e com os que nela trabalham.
A gleba me transfigura. Dentro da gleba,
ouvindo o mugido da vacada, o mééé dos bezerros.
O roncar e focinhar dos porcos o cantar dos galos,
o cacarejar das poedeiras, o latir do cães,
eu me identifico.
Sou arvore, sou tronco, sou raiz, sou folha,
sou graveto sou mato, sou paiol
e sou a velha tulha de barro.

pela minha voz cantam todos os pássaros,
piam as cobras
e coaxam as rãs, mugem todas as boiadas que
vão pelas estradas.
Sou espiga e o grão que retornam a terra.
Minha pena (esferográfica) é a enxada que vai cavando,
é o arado milenário que sulca.
Meus versos tem relances de enxada, gume de foice
e o peso do machado.
Cheiro de currais e gosto de terra.
(...)
Amo aterra de um velho amor consagrado.
Através de gerações de avós rústicos, encartados
nas minas e na terra latifundiária, sesmeiros.
A gleba está dentro de mim. Eu sou a terra.
(...)
Em mim a planta renasce e flosrece, sementeia e sobrevive.
Sou a espiga e o grão fecundo que retorna à terra.
Minha pena é enxada do plantador, é o arado que vai sulcando.
Para a colheita das gerações.
Eu sou o velho paiol e a velha tulha roceira.
Eu sou a terra milenária, eu venho de milênios
Eu sou a mulher mais antiga do mundo, plantada
e fecundada no ventre escuro da terra.

Cora Coralina

***Ahh! Eu amo os poemas da Cora Coralina, porque são simples, são lindos, e me remetem automaticamente à paz da vida na interior. Pensando bem, hoje que acordei tão feliz, (melhor, absolutamente do nada!), eu percebo como a minha alma é do mar, da terra, da simplicidade, como eu sou uma estranha nessa metrópole. Tenho certeza que minha outra vida foi na roça, ou em uma vila de pescadores, ou simplesmente extremamente perto da natureza. Eu sinto o seu chamado. Diariamente. 

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Olha o sol!



Em homenagem ao lindo dia de hoje!

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Presente dos anjos

Crédito da imagem: Luiz Ferreira

Porque eu fico tão feliz quando encontro um pé de pitanga? Porque eu acredito que seja um sinal dos anjos para me fazer sorrir. :D 

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Demolição do muro?

Crédito da imagem: Eileen Campbell


Já estava na construção do muro há algum tempo. Faltava cercar quase todo o perímetro, e era com maior cuidado que ela tomava no preenchimento dos cantos. Já cobria a sua altura, e ela pensava o quanto mais teria que erguer para proteger sua fortificação. Do lado de dentro, os tijolos eram cinzas, ahhh mas do lado de fora, ela tinha pintado um a um com as cores do arco-irís, e plantado diversos manacás da serra para que quem passasse admirasse sua construção. Mas ela estava tão cansada ultimamente! Lhe pesava erguer os tijolos, preparar a massa, e principalmente assentar os tijolos. O sol brilhava forte, como a dizer, deixa disso menina... Mas ela era teimosa, só que o esforço estava lhe esgotando o sorriso. A dúvida começava a assombrar-lhe a alma, pq estava perdendo a vista da estrada, estava cansada, e já começiam a aparecer rachaduras em alguns lugares. O muro que a principio servia de proteção, se tornou a barreira para a liberdade. Seu forte estava protegido sim, mas a que custo? O esforço e o tempo que ela gastava em construí-lo lhe afastou do encantado mundo das possibilidades. Poderia ali ter se feito um ninho de um sabiá, uma muda de flor poderia querer florir por ali. Alguns pássaros até se aproximavam da fachada colorida, mas quando atravessavam o muro e viam tudo cinza, iam-se embora. E com isto estava impedindo a natureza de seguir o seu caminho. Então com um estremecimento repentino ela parou. E pela primeira vez já não tinha certeza se deveria prosseguir.  

domingo, 7 de novembro de 2010

Tempestade que não vêm

Crédito da imagem: Pedro Ibanez

Faz tempo que não chove. Muito, muito tempo. Agora apenas existe silêncio, barulho do vento fraco ao longe. Falta vontade em se movimentar o ar e, há preguiça em deixar até que qualquer eco do mais breve sussurro se faça presente. Mesmice. Como aquela garoa chata que cai mas não molha. Há várias estações não se vêem tempestades se aproximando no horizonte. Tempestade bela, imponente, que ruge, cheia de raios e trovões, que se faz ouvir há muitas milhas a frente, que derruba qualquer tipo de muralha. Acompanhada de ventos fortes que sacodem tudo, que se impõe às quatro direções, energia pulsante que ilumina. Faltam as condições ideias para uma tempestade. Não se tem vento, a temperatura é sempre amena, não há cúmulos nimbos no horizonte. A garota olha para o céu e se pergunta: Porque? Porque secou-se tudo? Virou um deserto. Poeira que sufoca por vezes.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Colo

Crédito da imagem: Asif Akbar

A Gisela do blog vigilantes da auto-estima que eu sou mega fã, deu uma dica super importante outro dia. Quando a gente tá carente, com medo, sem saber o que fazer, se abrace antes de dormir e diga: "Vai ficar tudo bem, eu vou cuidar de você"
Entao vamos lá: "Ju, calma, eu vou cuidar de vocẽ, vai ficar tudo bem".
Eh a primeira vez que vou mudar de apto sozinha. Quando eu saí da casa da minha mãe, foi diferente eu tinha uma pessoa do lado. Agora não. E dá um aperto. Um medo. A gente se sente tão pequenininha. Nao sei explicar direito. Eh uma sensação de pressão, como se o mundo estivesse girando em uma velocidade em que você acha que nao vai acompanhar. 
Eh como se eu estivesse andando pela primeira vez. Estranho neh? Como uma simples mudança pode desestabilizar tão forte o centro da gente?
Força, força, força. Eu não to sozinha. Essa eh a unica verdade que eu tenho que compreender nesse momento.