quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Porque é do mar minha paixão maior


Crédito da imagem: Diane Groves


NA BEIRA DO MAR
Antonio Francisco e Mazinho



Na beira do mar, um pouco apressado,
O tênis esquerdo caiu do meu pé.
Parei pra calçá-lo, aí eu dei fé
Das coisas que antes não tinha notado;
O meu coração bateu apressado,
Pedindo a mim mesmo pra me perdoar
Por não ter parado nunca pra olhar
As coisas que tem no mar pra se ver,
Não fiz outra coisa somente escrever
As coisas que tem na beira do mar.

Na beira do mar tem fonte que chora,
Dunas de areias com ventos uivantes,
Marés ritmadas com ondas gigantes,
Coqueiros, palmeiras que formam a flora...
Tem peixe que pula da água pra fora,
Tem outros que sabem até mesmo voar,
Golfinhos que dão cambalhotas no ar,
Na crista da onda, quando ela se agita,
Tem vento que canta, gaivota que grita,
Brincando de tique na beira do mar.

Na beira do mar eu parei um segundo
Para observar um grande coqueiro,
Mas parecia um velho guerreiro
Em fim de carreira cansado e corcundo:
Raízes de fora, quase moribundo,
Pedindo pro vento vir lhe derrubar,
Que antes a morte do que recordar
Que toda a sua vida, suaves marés
Vinham de manhã lamber os seus pés,
Com a língua gelada da boca do mar.

Na beira do mar, um pouco sisudo,
Chapéu na cabeça, cobrindo o semblante,
E me perguntando qual fabricante
Que se lembrou de fazer isso tudo?
Qual engenheiro que tem tanto estudo?
A cabeça fervia de tanto pensar.
Mas disse-me o vento, no seu linguajar:
Esfria a cabeça e tira o chapéu,
Quem fez tudo isso reside no céu...
Só deixou as pegadas na beira do mar.

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